terça-feira, 16 de junho de 2009

Sonho de uma noite de Verão - parte 2

Na cozinha a chuva continuava a fustigar a janela e o vento uivava furioso.
- Só espero que não troveje... - pedi eu novamente às estrelinhas enquanto enfiava a roupa no secador.
-Não sei porque é que não tenho direito a meias - disse ela ao entrar na cozinha.
-Como estava calor... - ahhh... como poderia eu ter-me esquecido que a menina não gostava de ter os pézinhos ao léu- Eu já te vou buscar. Não tens fome?
Ela acenou que sim com a cabeça e enfiou-se no frigorífico em busca de mantimentos.
Era estranho... apesar de tudo era tão confortável estar ao pé dela. Era um dom que ela tinha... acalmava-me o coração mesmo quando o fazia bater descompassado.
Fiz duas sandes de queijo e bacon, enchi dois copos de coca-cola e fomos acabar o filme que estava a ver antes dela chegar.
Sentei-me no cantinho do sofá e ela sentou-se ao meu lado com o tabuleiro ao colo.
Entre uma dentada e outra contou-me que tinha combinado ir passar o fim de semana com uma amiga e que a tinham deixado pendurada.
Quando lhe perguntei se era uma amiga com aspas ou sem aspas ela riu-se.
É impressionante como conseguem tratá-la assim. Será que não se apercebem do que têm? Serão burrinhas? Cegas?
Refilei com ela pelo gosto torcido com que escolhe as companhias... acabam sempre por a deixar ficar mal.
Custou-me ver o ar resignado dela quando encolheu os ombros. Só me apetecia abracá-la com força e ficar ali, a dar-lhe o mimo que lhe faltava.
O filme entretanto já tinha acabado e eu nem tinha apanhado o final.
Um grande bocejo ao meu lado chamou a minha atenção e sugeri que fossemos conversar para o quarto. Assim, se ela colapsasse de sono pelo menos já estava no sitio certo.
Desliguei as luzes de todas as divisões e subimos as escadas enquanto ela me contava as suas últimas peripécias.
Trepámos para a cama e eu comecei a achar que afinal não ia ser assim tão problemático dormir com ela. Afinal estávamos as duas já deitadas e eu ainda não tinha tido nenhum ataque cardíaco, e almofada a que estava agarrada funcionava como uma trincheira, não havia problema nenhum... até que se ouviu, bem forte e definido, bem perto e sonoro, o som de um trovão.
Dei um salto e devo ter ficado branca com o susto porque ela agarrou-me imediatamente na mão e perguntou-me preocupada o que se passava.
O que se passava é que eu tenho medo de trovoadas. Medo, como os putos que correm para a cama dos pais. Medo de me enfiar debaixo dos lençóis. Sempre tive e não passou com a idade.
Mais um trovão, desta vez ainda mais perto.
Ela meteu um braço por cima dos meus ombros e apertou-me a mão com força.
-Shhhh... Eu estou aqui. - disse com uma voz doce.
Mais um trovão, ainda mais perto... a luz do relâmpago a iluminar a chuva de uma forma tenebrosa.
Ela encostou-se mais a mim e eu fiquei dividida entre o medo da trovoada e o medo de a ter tão perto.
Para minha vergonha o meu corpo decidiu sabotar-me e aquela dor no peito quando uma voz na minha cabeça me dizia "ela nunca te vai querer" saiu em duas lágrimas gordas com o trovão seguinte.
-Então... não chora, eu estou aqui. - Disse-me ela baixinho ao meu ouvido e o tom carinhoso com que falou ainda me apertou mais o coração.
Limpou-me a lágrima teimosa que estava presa à minha bochecha e ficou a olhar para mim, o seu rosto a escassos centímetros do meu.
Eu já nem me lembrava da trovoada, mas um estrondo enorme estremeceu as janelas e apagou todas as luzes.
Eu nem me apercebi, tão ocupados estavam os meus sentidos com a sua proximidade mas ela ainda me apertou mais contra si e, para surpresa de ambas, fechou o espaço entre nós com um beijo.

... to be continued

3 comentários:

Perdida disse...

Ai, eu até roi as unhas a ler isto!
É mesmo ficção ou foi mesmo assim?
Eu estou a amar!

Ela disse...

É ficção mas com muita verdade em cima.

Simone Lopes disse...

Continua. Tens mesmo muito jeito para escrever e as histórias são muito bonitas. Fico à espera de continuação :)
Gosto do Blog; sou seguidora :D