domingo, 14 de junho de 2009

Sonho de uma noite de Verão - parte 1

Embora lá fora chovesse torrencialmente, dentro de casa estava um calor incomodativo apesar do relógio já marcar a meia noite. O fresco da noite teimava em não chegar.
Olhei lá para a rua na esperança de ver a chuva abrandar e poder abrir um pouco a janela mas as gotas grossas continuavam a bater com força no vidro.
"Eu só espero que não troveje"- pensei, sentindo a casa ainda mais vazia.
Um bater seco e repentino na porta de entrada fez-me saltar do sofá. Áquela hora, quem me poderia estar a bater à porta? Naquele instante arrependi-me de ter cedido ao medo de criança que me fez ligar as luzes de todas as divisões... era óbvio que estava gente em casa e o bater insistente na porta levou-me a crer que quem quer que fosse não se ia embora.
Em pontinhas dos pés e sem fazer barulho espreitei pelo buraquinho mas a chuva e a escuridão não me deixavam perceber quem estava do outro lado... apenas via uma sombra negra.
Enchi-me de coragem e consegui que me saisse um "quem é?" meio trémulo.
-É para vender enciclopédias.... - respondeu-me uma voz familiar do lado de fora.
Dei duas voltas à chave e lá estava ela. Completamente encharcada, com mil gotas de chuva no cabelo que teriam sem dúvida brilhado com a luz da lua não fossem as nuvens pretas que a tapavam.
O meu coração saltou dois ou três batimentos. Já não a via à alguns meses, desde o seu aniversário. Mas ali estava ela, à minha porta. À chuva. E eu a olhar para ela com ar de parva.
Abanei a cabeça para voltar à realidade e disse-lhe para entrar.
-Fiquei sem gasolina mesmo no cimo da tua rua. - Explicou ela enquanto entrava. - Desculpa aparecer a esta hora sem avisar... os teus pais já estavam a dormir?
Se calhar até já estavam... eu é que não sabia porque se estavam, então dormiam calmamente algures em Itália, depois de mais um dia de férias.
-Só preciso que me deixes usar o telefone para pedir à minha mãe para me vir buscar.
-A esta hora? Com este tempo? E assim tipo pinto calçudo? Não é melhor ficares po cá, mudares de roupa e amanhã de manhã vamos buscar gasolina?
Ela ainda argumentou que não queria dar trabalho, que não fazia mal, mas eu já a arrastava escadas a cima.
Parei em frente à porta da casa de banho. Em vez de entrar disse-lhe onde estavam as toalhas e mandei-a ir tomar um duche quente, pedi-lhe para deixar a roupa molhada à porta para ir meter no secador e pisguei-me para o quarto com a desculpa de ir procurar algo que lhe servisse.
Era inevitável. Não consegui impedir que as memórias da ultima vez que ela tinha estado naquela banheira me enchessem a cabeça.
Tinha sido há quase 4 anos, numa altura em que eu ainda tentava explicar o que sentia dizendo a mim própria que ela era uma amiga com quem eu me dava mesmo muito bem e era por isso que não conseguia deixar de pensar nela.
Tinha sido num dia de Verão quente como aquele e ela tinha chegado a minha casa cheia de calor e completamente transpirada e eu, burra, na tentativa de agir como uma amiga normal, fiquei a conversar com ela enquanto tomava banho.
Lembrei-me de como fiquei chocada com o "ela é linda..." que repeti em pensamento. Lembrei-me de como fiquei apavorada por ver cair por terra todas as minhas tentativas de não ver como me tinha apaixonado.
Lembrei-me da sensação de pânico que tive quando me apercebi que a queria tanto. Da forma aparvalhada como me tentei lembrar de que ela era uma rapariga vezes sem conta como se isso fizesse alguma diferença.
Lembrei-me de como me senti até um pouco zonza e fiquei contente por estar sentada e poder analisar cada detalhe dos mosaicos para evitar olhar para ela. Mas acima de tudo lembrei-me dela, sentada com a água a correr-lhe pelo corpo nu.
Sentada na cama a ouvir a água a correr na casa de banho voltei a sentir o chão a fugir-me.
Pensava que tinha conseguido parar de pensar nela dessa forma.
Senti que o coração me ia saltar do peito... Como é que era possível?
Não a tinha visto mais do que 3 ou 4 vezes nos últimos 3 anos, tinha mantido contacto através de cartas e e-mails mas nada mais. O que era feito da lenga-lenga "longe da vista, longe do coração"?
"Tu tem tino!"-ordenei a mim mesma.
Já não era uma garota de 17 anos, já não achava que o mundo ia acabar porque me tinha apaixonado por uma rapariga, até já tinha conseguido falar com ela sobre o assunto em algumas das cartas que trocamos. Nunca lhe tinha dito como é óbvio que tinha sido ela a despertar esses sentimentos em mim mas isso devia-se ao pequeno pormenor responsável pelo acelerado coração naquele momento.
A verdade é que, apesar de todos os meus esforços, eu continuava completamente apaixonada e continuava a acreditar que ela nunca se ia interessar por mim dessa forma.
Pelo que me escrevia sobre as raparigas com que se envolvia eu achava que nunca ia ter a mínima hipótese e por isso tentei com tanta força empurrá-la para fora do meu coração. Alturas houve que achei até ter conseguido, já não me doía o peito quando lia as suas cartas e até dei alguns conselhos amorosos de grande valia... como uma amiga tem obrigação de fazer.
Não era tão simples ignorar o que sentia com ela a menos de 5 metros de distância.
-"Tu tem tino!" - repeti outra vez.
Levantei-me, peguei numas calças de pijama e numa t-shirt e deixei á porta da casa de banho. Apanhei a roupa molhada do chão e desci as escadas.


...to be continued :)

4 comentários:

Princesa Da Noite disse...

Então e o resto??? Fiquei curiosa!!
Bjs.
Princesa Da Noite

Jéssica disse...

Pois...e não é uma história real essa?

Trolha disse...

Gostei. Escreves com tesão. O que é apenas dom de alguns. Parabéns
Beijos

Stargazer disse...

Olá!

Há que tempos que ando para te escrever. Vejo que segues o Stargazer. Queria-te agradecer por isso. Sinto-me contente por o fazeres. Gosto da tua sensibilidade.

Adorei este post. Continua.

Um beijo,

Stargazer